Mary Jane Rathbun, mais conhecida como “Brownie Mary” era voluntária no Hospital Geral de São Francisco. Ela era muito conhecida por assar brownies de cannabis para pacientes com AIDS. Em 1992, ela foi presa e acusada de distribuição no condado de Sonoma, Califórnia, e ela foi representada pelo famoso advogado J. Tony Serra.
Na década de 1970, Mary trabalhou como garçonete na International House of Pancakes e ganhava dinheiro extra vendendo brownies com cannabis. Na década de 1980, Mary estava cozinhando ceca de 50 dúzias de brownies por dia e anunciava seus produtos nos quadros de avisos de San Francisco, chamando-os de “magicamente deliciosos”. Na noite de 14 de Janeiro de 1981, a polícia invadiu sua casa, na época ela tinha 57 anos.
A polícia encontrou mais de 18 quilos de cannabis, 54 dúzias de brownies e uma variedade de outras drogas. Ela se declarou culpada e recebeu três anos de liberdade condicional e 500 horas de serviço comunitário. E foi exatamente a sentença de serviço comunitário que mudou sua vida e a levou ao ativismo.
Mary Jane trabalhou com o Projeto Shanti, um grupo de apoio à pessoas com HIV. Seu coração foi tocado por aqueles que estavam sofrendo e morrendo da doença implacável, e foi assim que ela começou a assar brownies para os pacientes. Ela usava seu cheque de U$ 650 da assistência social para comprar os ingredientes.
No dia 7 de Setembro de 1982, ela andava pelo Market Street carregando uma bolsa de brownies e acabou sendo identificada pelos mesmos oficiais que a haviam preso no ano anterior. Ela estava a caminho de uma entrega para um amigo que tinha câncer e sofria dos efeitos colaterais da quimioterapia. Mary foi presa e acusada de posse e violação de condicional. Desta vez, o procurador do distrito derrubou as acusações.
A partir de 1984, Rathbun se ofereceu como voluntária semanalmente no AIDS Ward, no Hospital Geral de São Francisco onde levava brownies para quem sofria. Em 1986, recebeu o prêmio “voluntário do ano” da Ward 86.
Mary virou uma ativista reconhecida na questão do uso de cannabis medicinal e tornou a cannabis disponível para fins médicos na cidade de São Francisco. A proposta passou com 79% de apoio em 1991.
Em 1992, Mary Rathbun vivia em Cazadero, no condado de Sonoma e continuava fazendo seus brownies especiais. As autoridades foram avisadas e ela novamente foi acusada e presa. O ano era 1992, a guerra contra as drogas estava em seu auge, uma eleição presidencial estava na esquina e aquela pequena senhora de setenta anos estava disposta a ir á prisão por suas crenças.
O trecho a seguir vem do livro Lust for Justice: The Radical Life and Law de J. Tony Serra, de Paulette Frankl:
Sua audiência pré-julgamento foi realizada em Santa Rosa, Califórnia, em Outubro de 1992. Foi um evento tão grande que quando perguntei a Tony Serra sobre as instruções para o tribunal e o nome do juiz, ele respondeu: “Apenas siga as multidões.”
O corredor do segundo andar que levava ao pequeno tribunal em Santa Rosa estava atolado com hippies, mídia, pacientes com AIDS e outros apoiantes e, claro, agentes da lei prontos para usar suas armas, se necessário. Tive que dar algumas cotoveladas agressivas para avançar na frente dessa densa multidão, onde fiquei chocado ao ver uma velhinha na casa dos 70, no meio de um círculo de oficiais de justiça.
Brownie Mary não parecia ameaçadora o suficiente para provocar tal barulho. Ela era baixinha, frágil e estava claramente assustada com seu destino iminente. Ela estava vestida com calças de poliéster pastel com um suéter preto que continha inúmeros bótons da causa: “Brownie Brown”, “Maconha medicinal” e “Maconha sim, Bush não”, que tornaram-se objetos de inveja disputados a tapas entre os presentes, gerando um comércio informal nos corredores do tribunal.
Tony Serra, seu advogado, se elevou protetoramente sobre ela. Os oficiais de justiça pareciam rinocerontes de pistola ao lado de Mary, jurando um “crime” que nada mais era que compaixão pelo sofrimentos das vítimas da AIDS. Tudo parecia tão grotesco, tão desproporcional, como um desperdício de tempo, dinheiro e recursos preciosos da vida em nome de guerra contra as drogas.
Todo o show abalou o juiz que ofereceu a Brownie Mary um acordo de U$ 10.000 para finalizar o assunto. Mas Mary mostrou seu peso. Ela agradeceu gentilmente o juiz, mas recusou-se a ser comprada. Ela insistiu em ter um julgamento com um júri. O juiz tremeu imaginando seu tribunal preenchido com pacientes com AIDS e câncer, testemunhando os benefícios médicos da cannabis, as manchetes que se seguiriam e a atenção que a mídia daria e todas as conseqüências disso.
Mais tarde, foi anunciado que o caso foi finalizado. Foi o primeiro passo para a legalização da cannabis medicinal nas eleições da Califórnia em 1996.
Mary Jane “Brownie Mary” Rathbun morreu de um ataque cardíaco em 10 de Abril, uma multidão de cerca de 300 pessoas, incluindo seu amigo, e advogado Terrence Hallinan, participaram de uma leve vigília em sua homenagem no distrito de Castro. Hallinan disse que Mary era uma heroína e que um dia seria lembrada como Florence Nightingale do movimento a favor de cannabis medicinal.
Fonte: Ideia Fixa