A Universidade Federal da Paraíba recebeu o professor Sidarta Ribeiro, um dos maiores especialistas do país em substâncias psicoativas. Ele participou do Fórum Liga Canábica, cujo tema foi a Cannabis e a política de drogas.
Sidarta é professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), PhD pela Universidade Duke, nos EUA, e diretor do Instituo do Cérebro da UFRN.
O pesquisador reforçou informações históricas sobre o uso medicinal da planta e destacou algumas de suas aplicações. “1500 anos antes de cristo há evidência do uso terapêutico da cannabis. O Papiro de Ebers que mostra o uso para inflamação. A cannabis contém potentes antiinflamatórios. E tem várias substâncias na cannabis que nem produzem efeitos psicoativos e que são terapêuticos, que estimulam o crescimento de ossos, antiinflamatórios, antiepilépticas, antiproliferativas, antibacterianas. Tem muitas substâncias terapêuticas, a cannabis é uma farmacopeia, é uma planta que gera muitos usos diferentes de acordo com a combinação de substâncias”, explicou o professor.
Segundo Ribeiro, o preconceito da classe médica com a Cannabis devido ao fato dela possuir efeitos psicoativos é uma contradição.
“A gente tem que ter muita clareza do que são os conflitos de interesse na guerra às drogas. E quando você encontrar um médico que enche a boca pra falar que ele enquanto médico não pode recomendar a cannabis porque causa dependência, você fala ‘doutor, você bebeu uísque? O senhor fuma tabaco? O senhor passa rivotril? Porque isso tudo causa muita dependência”, disse.
“Se alguém perguntar se a cannabis faz mal, devemos responder ‘sim, ela pode fazer algum tipo de mal para algum tipo de pessoa, mas ela faz tanto bem para tantas pessoas’.E não é por causa da bula que vamos deixar de usar o remédio. Se eu for ler bula dos efeitos colaterais dos antidepressivos é assustador. A indústria é capaz de vender remédios por décadas que tem pouquíssimo efeito e no entanto é capaz de coibir o autocultivo de uma planta medicinal, ancestral, que pode sim resolver problemas de saúde ou sintomas de muita gente. Então a gente tem que ter muita sagacidade pra entender o que nesse debate é do interesse do povo, da população brasileira e o que é de interesse de grupos, de interesses particulares”.
“A ciência por muito tempo serviu a proibição. E era uma má ciência, financiada para provar mentiras. Isso nos anos sessenta. ‘cannabis mata neurônios’. Que mentira! Cannabis promove novos neurônios e promove novas sinopses. Agora, isso é sempre bom? Não, depende da pessoa. Se você for na farmácia já tem pra comprar. É extrato de cannabis. Custa 2.854 reais na farmácia, uma coisa que você poderia plantar em casa. Então tem algum problema grave aqui”, afirma o PhD em defesa do autocultivo.
Para ele, a atual política de drogas pune não só os consumidores, como também os “pequenos traficantes”. Usuário não é criminoso. E vou até dizer mais. O pequeno traficante que só faz varejo também não é criminoso, ele é vítima”, defendeu o professor.
Fonte: Brasil de Fato