Conselho Federal de Medicina diz que “não existe cannabis medicinal”.

O Conselho Federal de Medicina e a Associação Brasileira de Psiquiatria divulgaram na semana passada um conjunto de dez normas sobre a cannabis intitulado “decálogo sobre a cannabis”. Logo no primeiro item do documento, os órgãos alegam: “a cannabis sativa e a indica não podem ser consideradas medicamentos e, portanto, não existe cannabis medicinal”.
A frase é a mesma que tem sido repetida pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, em entrevistas a imprensa. O político é a principal voz do governo federal sobre a cannabis.
Veja abaixo os demais itens do decálogo do CFM e ABP:

2.A planta tem pelo menos 400 substâncias, sendo que uma, o THC, tem potencial de causar dependência e apenas uma, o CBD, está sendo investigada com o objetivo de verificar se existe ou não um potencial terapêutico;
3.Como os poucos resultados obtidos estão longe de ser generalizados, mesmo que o uso controlado possa ser feito, deve-se levar em conta os potenciais maléficos já comprovados;
4. Para qualquer substância com potencial de causar dependência em uso terapêutico, até hoje, a regulamentação é especial, pois os benefícios iniciais podem ser substituídos por danos decorrentes do uso crônico, visto que ainda não existem estudos a longo prazo que comprovem a segurança;
5. As conseqüências do consumo de cannabis fumada costumam ir além do usuário e podem atingir toda a família. Por exemplo, as alterações de humor e mudanças de comportamento são comuns e afetam as pessoas próximas e provocam acidentes no trânsito;
6. O consumo de cannabis pode levar a dependência, diminuição da atenção, memória e funções executivas. Prejudica a percepção da realidade e a tomada de decisões. Leva ao declínio de até 8 pontos no QI (Quociente intelectual);
7. Estudo recente mostrou que cannabis usada na adolescência pode aumentar o risco suicida nesta faixa etária e também na fase adulta;
8. A cannabis pode induzir a esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar quadros de ansiedade, como ataques de pânico;
9. O consumo de cannabis na gestação leva a alterações no cérebro do feto;
10. O consumo de cannabis pode levar a câncer de pulmão, bronquite, enfisema e infecções respiratórias, dentre outras alterações nos diferentes sistemas orgânicos. Elas são mais graves que aquelas decorrentes do uso de cigarro comum.

“Documento presta um desserviço”, alerta psiquiatra.

Logo após a publicação do decálogo, a médica Ana Hounie, pós-doutora em psiquiatria pela USP e membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, afirma que o documento é perigoso para a saúde dos pacientes, que podem interromper a medicação, prejudicando o quadro clínico.
“Esse tipo de documento é um desserviço à população já que existem várias pessoas se tratando com a cannabis e apresentando melhoras, e um documento vindo de instituições reconhecidas gera pânico na população, ansiedade. Muitos pais medicam seus filhos autistas, com epilepsia, Tourrete, doenças degenerativas”.
A psiquiatra também contestou o argumento da nota, que afirma que a cannabis não é um medicamento:
“Medicamento é aquilo que alivia algum sintoma, seja fitoterápico, seja industrializado ou sintético, ou isolado, uma substância que faz algum bem pode ser chamada de medicamento. Então a cannabis medicinal existe”.
Ana Hounie lembra ainda que existem “muitas evidências empíricas e estudos publicados de que a cannabis é medicinal”. A doutora concordou com o item 2 do decálogo, ao reafirmar que o THC tem potencial de causar dependência, “ninguém vai contestar esse dado”. Ponderou, no entanto, que a substância também tem atividade terapêutica, inclusive anticonvulsivante.

Fonte: Sechat

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